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O escritor, o texto e a IA*

Hoje conversei com um amigo que me ajudará com o marketing digital. Ele me perguntou se escrevo com a IA. E riu quando respondi-lhe: "é evidente que não". Diante de sua surpresa - afinal, "todo mundo hoje escreve com IA" -, expliquei: a relação do escritor com o texto é diferente daquela do publicitário. Enquanto este visa ao texto acabado e eficaz, aquele define-se existencialmente no próprio ato da escrita. É como um maratonista. Há muitas maneiras rápidas, confortáveis e eficientes de chegar ao final dos tais quarenta e dois quilômetros. Mas se o maratonista tomasse um ônibus, não seria maratonista. Isso porque ele não corre para chegar a algum destino; ele corre pela própria corrida - pelo desconforto, pela exaustão, e pelo prazer supremo que daí emerge. Assim é com o escritor: ninguém é escritor por simplesmente entregar um texto; o escritor é aquele que, consciente de seu estilo, sofre e goza com a escolha de cada palavra, com a construção da cadência e do rit...
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Fora de foco***

O filme   Desconstruindo Harry   é de 1997. Tem a duração de 1h35min. Escrito, dirigido, representado por Woody Allen e convidados. A obra se aproxima da nova abordagem terapêutica da Filosofia Clínica, especialmente com roteiros de autogenia, espacialidade intelectiva, e outros. No entanto se distancia, quando o fenômeno humano singular é tratado como algo universal, coisificado, refém de tipologias, estereótipos, protocolos.        Um aspecto vinculado aos deslocamentos intelectivos, se refere a pluralidade de expressões, derivações, para integrar o roteiro, tendo por base uma só matriz descritiva. Em outras palavras, trata-se de textos dentro de um texto, num convite para o leitor/espectador acompanhar a interseção do centro com suas margens. Vivenciar as sensações que se oferecem na história. No mesmo sentido, um pouco antes de ir ao cinema, autor e obra se confundem em sua redação. Os personagens se mesclam na criatividade dos roteiros. O texto se asse...

Singularidade*

Para a Filosofia (obviamente alguns autores, isso não é uma aceitação geral), a singularidade é um exercício, pois nascemos particulares – somos parte de algum grupo, de alguma família, de uma cidade etc. – e tornamo-nos singulares, com o esforço de imprimir nossa personalidade única. Para alguns, somos universais desde que nascemos, pois fazemos parte do todo seja da humanidade, do universo, da ecologia etc. Em alguns casos, em uma Filosofia ontológica, nossa existência é única, porém atrelada a gêneros ou espécies. Tornamo-nos – seja o que for - comparando-nos com outros ou em hierarquia com outros gêneros ou espécies. A Filosofia Clínica tem o pressuposto da singularidade na abordagem com o fenômeno humano, mesmo que o próprio indivíduo que venha até um filósofo clínico não se considere singular. Alguns não querem ser vistos existencialmente como singulares, mas como existindo em grupos ou em conexão com particulares ou universais. Assim se efetivam existencialmente.  Para algun...

Startups da Alma*

“Dedicatória: Me ame, ame meu guarda-chuva.”                              James Joyce   Nota significativa para quem se sente feliz no seu canto, para quem tem um refúgio para a alma, para suas incongruentes manias de viver, de poder se sentir bem num canto, mesmo que seja na parte mínima de um lugar pequeno chamado casa. Um lugar que se transforma em espaço infinito, onde se pode sentir a liberdade de estar só. A tarde que esfria, o sol recolhe o calor externo, sozinho se pode vislumbrar a solidão do seu lado mais poético, às vezes assusta o instante em que aparece na casa do seu Ser. Parecendo filme, livro, uma viagem que se torna tão real que já não distingue se um dia saiu de seu canto do pensar sobre algo, ou se realmente existe base para conectar a leitura de um livro, a audição de uma música com o filme que está na memória e foi assistido há um tempo, e se tudo isso faz parte da realidade ou é mera pa...

Parâmetros de estudo***

Considerar a totalidade da estrutura de pensamento não significa o mesmo que conhecer tudo sobre o indivíduo. Tudo implica na noção de reconhecimento ou estudo de algo observável em repouso, um objeto inerte ou estático. Do não dotado da capacidade de transformação. Encontrar a singularidade é entender estruturalmente o “como” do partilhante “sendo” na efetivação – submodos – de sua organização interna – estrutura de pensamento – possibilitadas por seu horizonte existencial – exames categoriais. Dentre outros motivos, esse ladear inicia por um recorte chamado assunto imediato, pois antes de enxergar a estrutura interna e sua efetivação, a possibilidade de reconhecimento se dá a partir das categorias. É necessário entender a estrutura de pensamento relacionada aos demais elementos do método. Na terapia, a proposta é uma aproximação ao como a pessoa está e não a busca de definir quem ela é. Isso traz ao filósofo clínico o desígnio de nunca baixar a guarda na relação traçada entre assunto...

*Resenha de Ana Bia

  Resenha de Ana Bia para o site:   https://proximolivro.net/   - Pérolas Imperfeitas - A pontamentos Sobre as Lógicas do Improvável . Editora Sulina. Porto Alegre/RS. 2012.  A vida é uma dança imprevisível entre o que conhecemos e o que ousamos explorar. “Pérolas Imperfeitas: Apontamentos Sobre as Lógicas do Improvável”, de Hélio Strassburger, não se contenta em ser apenas uma leitura; é um convite a questionar as realidades que nos cercam. Com uma prosa ligeira e provocante, Strassburger oferece um vislumbre das complexidades do cotidiano, os fragmentos de beleza que só emergem na imperfeição. A obra se faz acompanhar de reflexões que transitam entre o inesperado e o banal, revelando que muitas vezes são as falhas que nos fazem humanos. Em suas páginas, você encontrará a essência das pepitas de sabedoria que surgem na adversidade e nos desafios diários. Ao longo de 142 páginas de puro deleite, Strassburger despiu-se de qualquer formalismo excessivo e, em v...

Revista da Casa da Filosofia Clínica Primavera 2025 - Ed. 14

  A Edição de Primavera chega para nos brindar, junto com a estação, com o florescer das singularidades, que se apresentam formando um mosaico. Nessa construção compartilhada, convidamos você a ler e a tirar o melhor. Boa leitura! CLIQUE AQUI PARA LER

Sobre a inconstância ritmada dos mares*

Se aprofundamos perguntas porque questionamos respostas, nossas buscas se movem mais por dúvidas do que por certezas. Sendo a filosofia proveniente da inquietude, tendo a ataraxia (quietude da alma) como uma de suas metas, sua conquista marcaria o fim da filosofia? Ou seria um novo começo, onde os questionamentos se desdobrariam "ad infinitum"? O que seria mais sensato, aceitar ou questionar as vagas de uma vida vaga? A questão é: sensato pela ótica de quem?!... Essa merda parece não ter fim... Círculo perfeito nem na auréola etérea, sagrado rarefeito. Espiralas, Ana Rita, espiralas... Não faças da liberdade, prisão. Melhor contemplar, estava certo Platão... Se é verdade o que se vê tenho dúvidas, mas que é um bom lenitivo, isto é. Talvez estratégia de resistência da "demonizada loucura" diante de tanta "sanidade santa", tão necessária quanto desviar o olhar do abismo para nele não sucumbir de vez. Sereniza o coração, aquieta a mente... E a gente dá conta ...

A matemática simbólica e a singularidade*

A novidade da filosofia clínica é a afirmação da singularidade. Cada partilhante é critério de si, a partir de sua historicidade, fornecendo parâmetros à realização dos procedimentos clínicos ao terapeuta. Mas, alguns desdobramentos dessa abordagem terapêutica são questionáveis. Refiro-me a questões relativas à matemática simbólica. Para refletirmos, uso a filosofia clínica como o método para melhor explicá-la, corrigi-la e desenvolvê-la. As linhas seguintes demandam concisão. Considero a filosofia clínica capaz de compreender formulações complexas ao analisar suas composições estruturais. No início da “Filosofia Clínica: propedêutica”, Lúcio Packter destinou as primeiras linhas para explicar o contexto histórico que permeou sua vida no período no qual iniciava suas pesquisas para a sistematização daquilo que mais tarde receberia o nome de filosofia clínica. A categoria circunstância descrita pelo autor nos ajuda a suspeitar que como o mundo parece é um tópico determinante em sua estru...

Idioma dos olhos*

Aprendi com uma fotógrafa que para demonstrar felicidade em uma foto não é preciso sorrir com a boca, são os olhos que transmitem o estado de humor. Quantas vezes você já viu aquilo que chamamos de “sorriso amarelo”? Boca sorrindo e olhos chorando, denunciando o estado de espírito em sofrimento.  Quando uma pessoa está bem, seus olhos transmitem essa energia positiva que se projeta direto na foto. Não há como enganar. Aprendi com meu neto Bernardo, que agora completou um ano de idade, que a boca também não é necessária para ser entendido, os olhos conseguem dizer quase tudo. Quando brinco com ele e faço uma bolha de sabão, na tentativa de agarrá-la com as mãos, invariavelmente estoura. Ele me encara e seus olhos perguntam “onde foi parar a bola”? Ainda não tem capacidade de raciocínio para entender a fragilidade de uma bolha de sabão, o que ele quer mesmo saber é onde se meteu a tal bola que estava bem à sua frente, diante dos olhos. Bernardo ainda não sabe que sou seu avô, não mor...

"Filosofia Clínica, Anotações e Reflexões de um Consultório”: Quando a filosofia é a cura***

Notadamente brasileira, mais especificamente gaúcha, da província Rio Grande do Sul, a Filosofia Clínica surgiu na década de 1990 com muito estranhamento e incompreensão. Como sempre ocorre com toda a metodologia inédita, sofre descrédito e alguns ataques pusilânimes. Tive a sorte de frequentar uma das primeiras turmas na cidade de São João del-Rei/MG, nos inícios dos anos 2000 e fui ver de perto a aplicabilidade, ao menos teórica. As aulas foram ministradas pelo competente e carismático Hélio Strassburger e resumindo o máximo para caber em uma resenha, a abordagem ia além da filosofia de aconselhamento e mergulhava a fundo na investigação das causas das nossas estruturas de pensamentos e dores existenciais. Adendo: sempre que utilizar o negrito trata-se de definição da nova disciplina. Assim sendo, nos referíamos ao termo como “EP”. Mas cabe aqui uma ressalva; os detratores foram alguns psicólogos e psiquiatras, que viram na abordagem da disciplina uma concorrência desleal. A grande b...

O que a Filosofia Clínica não é*

Não tendo pretensão de definir um conceito sobre o que é a Filosofia Clínica (F.C.), mas antes convidá-lo a refletirmos sobre alguns aspectos daquilo que ela não é, me apresento: Sou Ancile, habilitada à pesquisa em F.C. e Graduada em Psicologia. Atuo com psicoterapia de inspiração existencialista há 12 anos. Se no Novo Paradigma ainda me sinto como uma criança sendo alfabetizada, na área psi posso dizer que já concluí as “séries iniciais” e me sinto segura para propor a tentativa de traçarmos um paralelo no sentido de ressaltar as diferenças essenciais de cada área. Trago algumas características metodológicas das 3 grandes áreas  psis , Psicologia, Psicanálise e Psiquiatria, suas diferenças entre si e em relação à Filosofia Clínica. Começando pela Psicologia, fundada em 1879 por Wilhelm Wundt (1832-1920), a partir da criação do Laboratório de Psicologia Experimental na Universidade de Leipzig, Alemanha. São muitas escolas de pensamento desde então, com variadas teorias que buscam,...

Intervenção literária Já*

Palavras são apenas palavras para quem não sabe ler, para quem não sabe ouvir, para quem não sabe sentir, por exemplo, que há poesia em tudo e quando não inspira, ensina demais. A poesia sempre pode nos transformar e é você quem escolhe se será por dor ou por amor. Mas, se palavras fossem apenas palavras e nada mais, não haveria escrituras, nem contratos, nem constituições inteiras e, pior ainda, não haveria nos contatos humanos nem entendimentos, nem acordos, nem abraços, nem mesmo a poesia. Porventura, as palavras são a expressão das impressões, dos sentimentos, da consciência; são de forma pujante a expressão da vida. Afinal, a arte imita a vida e é por isso que as palavras pulsam tanto aqui e agora sempre em forma de poemas provocados por você. Musa! ***** Intervenção literária já!!! Esse é o meu apelo!!! Uma vez que o povo precisa urgentemente conhecer as suas histórias locais, a história do Brasil, a literatura brasileira e a poesia pelo menos... Depois disso, o discernimento ser...

Um breve instante*

O meu filho de doze anos perguntou-me qual é o objetivo da vida. Levei uns minutos para responder-lhe, pois essa pergunta é tremendamente séria. Foi Aristóteles quem me soprou a resposta: o objetivo da vida é descobrir o que melhor fazemos aqui no mundo, e fazer isso cada vez melhor. * * * Isto é: ao descobrirmos as nossas potências, podemos agir para realizá-las. Fazendo o que fazemos melhor, podemos ocupar o nosso lugar na ordem da existência - o que nos harmoniza com o Cosmos e nos conduz pela estrada da eudaimonia. * * * Expliquei-lhe que o critério dos ganhos financeiros não deve ser tomado como medida exclusiva de sucesso. Afinal, todos conhecemos pessoas ricas que levam uma vida miserável - e pessoas de vida simples, mas feliz. Sucesso não é o mesmo que dinheiro: é bem outra coisa. O sucesso de uma pessoa deve ser julgado pelo critério da auto-realização: a pessoa bem-sucedida é aquela que encontra a realização da sua existência no trabalho que se propõe a fazer, seja intelectua...